sábado, 24 de setembro de 2011

A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken - J. Gaarder & H. Hagerup



Eu não gosto de tudo o que leio, minhas opiniões aqui são sempre positivas porque não faço propaganda dos livros que não gosto. Também não faço propaganda dos livros acadêmicos, pois, defini que este seria um blog para assuntos apenas literários.

Gostei muito deste por ser o primeiro livro infantil que eu li cujo enredo é baseado em troca de cartas. Ele pode funcionar, para uma criança, como um "preparatório" para as leituras mais pesadas que fará no futuro e que sigam o mesmo estilo, como por exemplo o Drácula de Bram Stoker ou Os sofrimentos do jovem Werter do Goethe.

Segue o mesmo estilo dos outros livros de Gaarder (é o primeiro do Hagerup que leio, então, não posso basear minha argumentação nele), a lógica racional sob a suave brisa do fantástico!

Vi, Li e Curti.

Livro emprestado por: Nanci. Obrigado!

domingo, 12 de junho de 2011

O Vampiro Lestat - Anne Rice


Sem palavras! Não senti o final de semana passar... Aliás, não é bem por aí, séculos se passaram durante este final de semana, na companhia da imortalidade.

Enfim, o último motivo pelo qual os vampiros da Anne Rice encantam é pelo fato de serem vampiros. Eles encatam por serem imortais, encantam por serem de uma magnífica e sensual androgenia, encantam por não serem perfeitos e muitas vezes serem humanamente estúpidos, encantam por viajar pela história, por ser uma "consciência contínua", por enlouquecerem, por terem dificuldade de se adaptar a passagem do tempo e chega porque eu já dei motivos pra caramba!

Como sempre, nada do enredo, se quiser saber o que tem no livro, leia!

Vi, Li e Curti

Livro presenteado por: Jazz, meu amor.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A Mão Esquerda da Escuridão - Úrsula K. Le Guin


Pra dizer a verdade, peguei este livro não por interesse, mas, por ter sido acometido por uma crise de abstinência literária ensandecedora. Na primeira página, quando vi aquelas datas e coisas caóticas típicas de Ficção Científica pensei "cara, eu não vou ler isso, eu odeio ficção científica, o nome do livro é bunda, a primeira página é bunda". Procurei melhor e minhas outras opções eram "O Aleph" e um outro de auto-ajuda que tinha a palavra "vencedor" no título.... Eu contiuei a lê-lo.

Ainda bem!!!!
A narrativa é MUITO gostosa, e mais que isso, o livro contem uma boa profundidade filosófica e social.

Vi, Li e Curti.

Livro herdado de:  Meu Nono, Pepino. Obrigado!

sábado, 30 de abril de 2011

A Cidadela - A.J. Cronin


Esta, sem dúvida, no topo da lista dos livros que mais gostei. Ainda estou abalado por causa dele, e tenho a sensação de que continuarei abalado por muito tempo, talvez, até tenha sido afetado para sempre.

Ao contrário do que diz a sinopse no verso do livro, ele não trata da médicina no século XX, também não trata da situação dos trabalhadores das minas, ele trata de um homem, dos ideais desse homem e do mundo. Esse homem pode ser eu, pode ser você, pode ser qualquer um que diz acreditar e lutar por algo, mas aparece sob o nome Dr. Manson.

Livro presenteado por: Elzir (mamãe). Muito Obrigado!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Viagem de Théo: Romance das Religiões - Catherine Clément


Sabe o que o Jostein Gaarder faz com a filosofia? Sabe o que o Bernard Cornwell faz com batalhas históricas? Sabe o que o Malba Tahan faz com a matemática? Sabe o que o Dan Brown faz com os lugares turísiticos e com as novas tecnologias? Pois é, Catherine Clément tem o mesmo poder que estes autores, nos faz aprender, ter vontade de conhecer, nos ensina de maneira muito suave coisas muito dificeis de serem aprendidas. No caso, a escritora nos ensina mais do que simplesmente "religião", ela ensina algo muito maior, a "tolerância religiosa".

O enredo? Leia a orelha do livro....

Este livro foi muito importante pra mim, acredito que será muito importante para você!

Livro emprestado por: Nanci. Obrigado!

domingo, 20 de março de 2011

Idéias ambiciosas

O nosso problema é que temos idéias muito ambiciosas se comparadas com a nossa parca força de vontade.

sábado, 19 de março de 2011

Eletricidade Chocante - Saber Horrível - Nick Arnold


Um livro incrivelmente didático, que ensina muito sobre a energia elétrica, utilizando de humor e ironia.
Curti pra caramba!

Livro emprestado por: Peca. Obrigado!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Ponto de Impacto


Dos livros do Dan Brown, acredito que este é o que mais demora para ficar emocionante, mas, mesmo assim, acabo colocando-o como indicação de leitura. Este livro segue exatamente a mesma receita de bolo dos demais, morte no primeiro capítulo, um casal quarentão hiper-intelectual no centro da história, que, no final, se ainda não for um casal romantico, tornar-se-á. Ambientes ultra-secretos e tudo mais.

Livro emprestado por: Lázaro. Obrigado!

terça-feira, 15 de março de 2011

3 anos de namoro!!! - Passeios, passeios - Dor de Cabeça dia 2 - 09/03

Se

Se um dia eu percebesse
Que nosso amor ia ter fim
Eu te reconquistava
Com um canteiro de Jasmim

Se um dia eu percebesse
Não ter espaço em seu coração
O canteiro eu enfeitava
Com dente de leão

Se um dia te encontrasse
No meio de uma choradeira
Pra você sorrir eu plantava
muita flor de cerejeira.

E conforme o tempo passasse
Nosso lindo canteiro
Seria cada vez maior
E com flor do mundo inteiro!

Obrigado meu anjo por me suportar durante 3 anos, que para mim foram incríveis!!

INDAIATUBA

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Entrevista com o Vampiro


Faz dois dias que terminei de ler este livro, no entanto, precisei pensar bastante para conseguir escrever alguma coisa a respeito dele...

Sobre a autora, não é o primeiro livro que leio de Anne Rice, tampouco é o primeiro livro que indico. Apesar de dois livros serem pouco para que se possa traçar o perfil de um autor, pude perceber que Rice consegue em um único enredo escrever duas histórias. A primeira, interna, que se desenvolve inteiramente na cabeça do protagonista; e a segunda, externa, que se desenvolve à partir de fatos.

Sobre o livro, gostei pra caramba. Antes de escrever aqui, resolvi dar uma olhada em outras críticas do livro e não encontrei nenhuma que citasse justamente o aspecto que achei mais interessante da história:

Os vampiros possuem sensualidade, no entanto, não possuem sexualidade alguma, o que é muito bem pensado, afinal, o sexo é a forma de reprodução humana e envolve prazer, no entanto, nada tem a ver com a forma de reprodução dos vampiros de Rice, seus vampiros não se reproduzem pelo sexo, o corpo humano está morto, reproduzem-se por um ritual de sangue e é nisso que está o prazer. Já havia visto o filme, que não soube captar esta peculiaridade, dando a entender que muitos vampiros eram homossexuais, depois de ler o livro, entendo que todos os vampiros são homossexuais a partir do momento que só há um sexo na imortalidade e todos possuem o mesmo papel na reprodução.

Eu poderia ter escrito várias coisas sobre outros aspectos do livro - construção de cenários, repodução dos diferentes locais e épocas, esfericidade dos personagens - e ficaria o dia inteiro discorrendo sobre o que eu achei e o motivo de ter achado. Não quis fazer isso. Já disse, gostei do livro como um todo, para entender como eu me senti só existe uma maneira, leia o livro também!

Livro presenteado por: Jazz. Muito obrigado!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sozinho na Noite - Prefácio - Parte 01/07

RESUMO

Até aquela noite ele era um cara normal, até aquele momento fatídico ele transitava normalmente pelo dia e pela noite. E agora, o que ele é? Um vampiro? Um louco? Um habitante das sombras? Como será que ele iria lidar com aquela situação? Abandonar emprego, família e amigos, desistir de seus sonhos e de conquistar o seu amor, ele conseguiria?

01.PREFÁCIO

Estavam se encarando já fazia, no mínimo, quinze minutos. De um lado, olhos castanhos semicerrados, o cenho franzido, indicando a máxima concentração possível. Do outro lado, olhos oblíquos, alaranjados e em fendas, demonstrando ameaça. Nenhum dos lados aparentava medo, tampouco, indicavam que aquela disputa terminaria em breve. De um lado um homem, do outro lado um gato preto. O homem já havia visto aquele gato nas proximidades de sua casa algumas vezes e havia percebido algo de sobrenatural no animal, tinha certeza que o animal escondia alguma coisa, sempre obstinado, parecia saber o que queria. Havia esperado muito tempo por aquele confronto cara a cara. De um lado, o homem avançava lentamente, os olhos duros. Do outro lado o gato mantinha firme a posição e apertava os olhos ameaçadoramente. Pé ante pé o homem avançava, não importava o que aquele gato tinha de especial, nesta noite, ele descobriria. Conforme o homem se aproximava o gato tomava uma postura mais agressiva, arqueando cada vez mais suas costas, e quando a distancia entre o rosto do homem e o rosto do gato representava não muito mais do que cinqüenta centímetros, o gato começou a emitir um chiado de ameaça e a expor seus afiados dentes. O homem não se intimidava. Trinta centímetros separavam as faces, os braços do homem poderiam agarrar o animal a qualquer momento, o chiado aumentou, o homem parou de avançar. De um lado, os mesmos olhos castanhos semicerrados, o cenho franzido, uma gota de suor. Do outro lado os mesmos olhos oblíquos, alaranjados e em fendas, inspirando uma agressividade maior do que a do próprio bichano. Algo aconteceria a qualquer instante, algo tinha que acontecer.
Nada acontece por acaso, forças misteriosas movem o mundo, algumas delas devem prezar para que as coisas sempre aconteçam na hora certa e da melhor maneira, outras, em quantidade muito maior, esforçam-se incansavelmente para que tudo aconteça na hora errada e da pior maneira, não há equilíbrio de forças. Ele tinha certeza de que este gato representava algum tipo de força misteriosa e que aquele encontro não era um mero fruto do acaso, alguma coisa estava prestes a acontecer.
Numa fração de segundo ele tomou uma decisão, moveu os braços o mais rápido que pode, com a intenção de capturar o animal.

*********

O gato atacou primeiro, foi mais veloz.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O Dossiê Odessa - Frederick Forsyth


Sinceramente, eu pensava em não indicar esse livro, até a página 257 onde o autor deu uma virada em mim que me deixou fora de sintonia. O livro é uma mistura de ficção com realidade. Do tipo que o Dan Brown devia gostar de ler quando ainda estava na escola.
Trata -se da história de um repórter alemão que por algum motivo, sente-se tocado pelo diário de um judeu a ponto de arriscar a própria vida para descobrir o paradeiro de um homem específico. Leia e descubra mais!

Livro emprestado por: Mamãe. Obrigado!

Sobre música e corações - Sobre músicas e corações - Parte 6/6

Eu imagino o amor como uma partitura. Para quem não o conhece, ele não faz o menor sentido, parece um conjunto de normas que só serve para que a pessoa fique presa, dependente de algo da qual ela era totalmente livre antes de conhecer, mas para quem conhece de perto, percebe que do amor é possível extrair coisas fantásticas, é só saber como tratá-lo. Assim como observamos nas partituras, cada amor é único, se você pega uma partitura e a toca literalmente ela sempre vai soar como a mesma música, e mesmo que outra pessoa a escreva, se a cópia for fiel, ela não será outra música, será a mesma, ou seja, cada partitura diz respeito a exclusivamente uma música, assim como cada amor diz respeito exclusivamente a um casal. Não existe amor igual em dois casais, assim como não existe partitura igual para duas músicas.

O artista de jazz se destaca justamente por não seguir sua partitura exatamente como ela manda. O artista de jazz não pode ser previsível, ele tem que saber o local onde transgredir a partitura, se ele for feliz, sua transgressão resultará em uma improvisação que torna a música mais bela do que a sua própria partitura, mas se ele não for feliz ele pode destruir a música, sem chance dela voltar a ser como era. Para nós músicos, o amor é encarado da mesma maneira, ele já é bonito se seguirmos suas regras pré estabelecidas, mas nós precisamos arriscar, transgredir, torná-lo mais belo e surpreendente, evitar deixá-lo tornar-se monótono, pois assim como ouvir uma música repetidas vezes, da mesma forma é cansativo, um amor monótono também o é. Quando acertamos, o amor se torna mais forte, no entanto, se errarmos, temos a chance de destruí-lo.

Quando conheci a Clarisse, eu jamais poderia imaginar que entre ela e o Hélio seria composta alguma partitura. Assim como muitas vezes a música pode surgir de uma situação imprevisível, como o ritmo de uma goteira, o amor pode surgir em qualquer situação, no fim das contas eu penso que ele não parece uma música, mas sim que ele é a própria música. Um amor à primeira vista, uma inspiração. Um relacionamento que se firma aos poucos, uma partitura composta com esmero e dedicação. Qual é sua música favorita? Qual é a sua maneira de amar?

Hoje é um dia especial e como eu já disse, não necessariamente o meu, mas eu me sinto parte disso tudo, estou apenas esperando a Clarisse chegar, ela já deve estar uns cinco minutos atrasada, sorte minha, sem esse atraso não teria tido tempo de chegar a esse ponto da história. Se vamos tocar, sim, vamos tocar, mas hoje a banda está com uma formação um tanto diferente. O Hélio não está no palco conosco e convidamos uns amigos para nos ajudar na apresentação de hoje. Se o Hélio está aqui conosco? Sim ele está, mas é que ele está lá no altar esperando a Clarisse chegar... Hoje realmente é um dia muito especial... Lá vem ela, e pela primeira vez na minha vida eu vou tocar uma marcha nupcial. Até um dia e obrigado pela atenção.

FIM.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sobre música e corações - The Blues are Brewin' - Parte 5/6

Pra ser sincero, eu tive a doce ilusão de que chegaria em casa, mesmo após quatro dias de ausência, e encontraria tudo no mesmo lugar. Acho que sou meio ingênuo as vezes. Me surpreendi demais ao chegar e perceber que alguma coisa estava diferente. Não é bem “diferente” a palavra certa. Havia me acostumado com a ausência de fumaça e com as janelas abertas proporcionadas pela Clarisse e encontrei uma casa com ar pesado e com todas as janelas fechadas. Era fácil perceber que estava todo mundo em casa, conheço os ruídos típicos de cada um, mas não havia ninguém na sala, cada um estava confinado em seu respectivo quarto. Dei alguns passos, e duas batidinhas leves em uma das portas:

- Posso entrar Wilsão?

A porta abriu e eu entrei. Wilsão me recebeu com um abraço e um carinho na nuca com sua mão gorda.

- Achei que você tinha ido embora mesmo cara, sua saída abalou muito todo mundo, não faz mais isso, quando você saiu, o Welly entrou desesperado aqui no quarto, acho que no fundo ainda estamos todos impressionados pelo que aconteceu com o Marcus.
- Desculpa cara, não foi a intenção, sabe, devemos muito ao Hélio, mas isso não dá a ele o direito de fazer as coisas como fez aquele dia, não mesmo, não consegui me segurar.
- Eu sei, você tá certo, mas não vai mais embora desse jeito. Vai falar com o Hélio, vou avisar o Welly que você voltou, ele vai ficar mais tranqüilo também. Nesses dias ninguém conseguiu nem entrar no clima pra tocar alguma coisa.
- Nem sei o que dizer... Vou falar com o Hélio.

Fui direto pro quarto do Hélio, e sinceramente, eu estava preparado para ser mal recebido. Antes de eu chegar na porta ela abriu e o Hélio saiu pra me dar um abraço, fiquei sem entender nada.

- Ouvi sua voz, meu irmão.
- Acho que nos devemos desculpas, cara.
- Acho que sou só eu quem deve desculpas, e não é só a você, devo desculpas a todo o quinteto.
- QUINTETO?
- Eu gosto do som da Clarisse, meu irmão, gosto mesmo, e era isso que estava me machucando cara. Eu fiquei sentindo como se tivesse traindo os meus princípios, todo aquele meu discurso sobre o orgulho negro, toda aquela minha baboseira, aquela ladainha do tipo “me fala o nome de uma trompetista famosa?” E no fim das contas, quando você foi embora, fiquei pensando em como eu era tonto. Essa minha história de orgulho negro é racismo cara, o mesmo racismo que eu tanto digo ser contra! Como é que eu quero ser tratado como igual, independente da minha cor, se eu faço questão de me mostrar diferente exatamente pela minha cor? Pensei também que deve ser justamente por muita gente pensar como eu a respeito da mulher no jazz que nenhuma mulher conseguiu destaque em algum lugar que não fosse a voz e talvez o piano. Você abriu meus olhos meu irmão, e devo muito a você. Se a Clarisse ainda quiser tocar conosco, eu vou recebê-la muito bem.
- E você já telefonou pra ela?
- Achei que você faria isso por mim...
- Hélio... Se tem uma coisa que aprendi com você, cara, é que se alguém quer uma coisa, a única maneira de conseguir é lutando por ela, fazendo com que ela aconteça.
-Algo me diz que sou eu quem vai ter de ligar...

O Hélio ligou pedindo desculpas, não pude ouvir o que ele disse, mas funcionou, acho que a Clarisse, mesmo tendo personalidade muito forte, não é do tipo de pessoa que perde oportunidades por causa do orgulho. Depois de algumas semanas já estávamos os cinco nos apresentando novamente. Depois de um mês, as janelas já estavam novamente abertas, o Welly estava parando de fumar, e até a Elisa estava arranjando umas folgas pra poder passar umas tardes conosco e assistir há uns ensaios.
Foi nesse período que fizemos a última descoberta crucial que alterou a trajetória dos Melancólicos Azuis. Certo dia, estávamos assistindo freneticamente vídeos do Louis Armstrong, tentando emplacar mais algumas músicas em nosso repertório (que a essa altura já era composto por alguma coisa do Mingus). No fim da tarde, quando estávamos ponderando algumas músicas, escutamos uma voz maravilhosa vindo da cozinha, os cinco presentes da sala se entreolharam surpresos, ninguém jamais contava com aquilo. A Elisa havia se voluntariado para preparar o jantar enquanto discutíamos, e era ela quem cantava. Acho que após ouvir tantas vezes repetirmos a música The Blues are Brewin’ ela decorou alguns trechos, que eram reproduzidos como que por uma reencarnação da própria Billie Holiday, foi fantástico, o difícil foi convencer a Elisa de repetir o feito em nossa presença.

Em pouco tempo, conseguimos convencer a Elisa a pelo menos fazer parte dos ensaios, evitamos todas as desculpas do tipo “eu trabalho muito, não tenho tempo e tenho muitas coisas pra fazer” começando a ensaiar também aos fins de semana, antes das apresentações, quando ela realmente não tinha que trabalhar. Para que isso fosse possível, deixamos de ensaiar na terça, quando fazíamos um mutirão de limpeza na casa da Elisa, impedindo assim também que ela falasse que tinha coisas pra fazer em casa. Olhando para trás, acredito que este tenha sido o período mais divertido de minha vida.

Como conseqüência de nossa apresentação no Newport Brasil, um número muito maior de bares começou a mostrar interesse pelo nosso trabalho, às terças-feiras, por exemplo, que nunca havíamos tocado, fomos convidados a nos tornar banda residente de um café chamado Samba-Rock, que apresentava música ao vivo todos os dias, variando os estilos. Após assistir a nossa apresentação daquele evento, um dos sócios resolveu adicionar o jazz ao repertório e fomos convidados. Nossa situação emocional estava ótima, mas nossa situação financeira também nunca havia estado melhor. É lógico que de sacanagem, atribuíamos o dinheiro extra em caixa apenas ao fato do Welly ter parado definitivamente de fumar.
Quando a Elisa finalmente aceitou entrar definitivamente para a banda e fazer apresentações ao nosso lado a banda chegou a atual configuração, um sexteto de Jazz, que se não fosse pela presença da miniatura da branca de neve, pareceria saído direto dos bares americanos com quatro negrões instrumentistas e uma mulata que cantava apoiada ao piano. Mas a Clarisse estava lá, mostrando a todos que aqui, no Brasil, as coisas são assim, o espaço é dado ao talento e não ao sexo e a cor.

O sexteto fazia apresentações seis vezes por semana, sendo que já éramos residentes em três bares e itinerantes nas outras três noites. A voz de Elisa soava cada vez mais melancólica conforme ia aprimorando suas técnicas nos ensaios e apresentações. Até que veio mais uma vez, uma grande surpresa. Na apresentação de um dos bares onde tocávamos sempre, o “Felling Blues”, após a belíssima interpretação da Elisa, de “The Blues are Brewin”, fizemos um intervalo e um cara que não devia ter mais de trinta anos, cabeludo, com um visual bem pós-moderno, cheio de piercings, veio falar conosco. Ele se disse representante de uma grande gravadora, mostrou-se interessadíssimo pelo nosso trabalho e ofereceu uma quantia muito boa para que gravássemos um disco de tributo à Louis Armstrong. Hélio mostrou-se muito sério e realizou todas as negociações ali mesmo, deixando tudo certo para a elaboração de um contrato. Assim que o cara foi embora é que a fixa caiu em todos nós. Aí foi que explodimos de emoção, e foi aí que percebemos que havia uma coisa diferente no sexteto. Quando começamos a gritar e comemorar, abracei e beijei Elisa com todas as minhas forças, quando me virei para abraçar o Welly é que vi o que havia de diferente: esse momento de emoção intensa deve ter liberado alguns sentimentos que estavam reprimidos em algum lugar, pois o Hélio e a Clarisse estavam parecendo um casal de novela, em um beijo entre lágrimas, abracei Elisa e contemplamos aquela imagem. Realmente, a vida é capaz de sempre nos surpreender.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Fortaleza Digital - Dan Brown


Todos os livros que li do Dan Brown  são de uma leitura muito fácil e gostosa e esse segue o mesmo padrão.
O ponto forte deste autor é trabalhar sempre utilizando agencias, governos, novas tecnologias, tecnologias em teste, obras de arte, simbolos e construções, todos reais, para a construção de suas ficções. O que  torna seus enredos informativos, além de nos dar uma sensação de que tudo é possível.
Apesar de achar seus livros muito legais e interessantes, acredito que o autor peca na construção de seus personagens principais. São todos seres perfeitos, lindos(as) e gênios(as), atléticos(as), virtuosos, incapazes de praticar ações vulgares ou imorais, simplesmente, os melhores em tudo. De todo o enredo, seus personagens são o que há de mais ficcional!!
Sobre o enredo do livro, se trata de uma trama que envolve dois cenários, o primeiro, um ambiente fechado, onde a trama é virtual e o segundo um ambiente aberto onde a trama é física. Se eu entrar em detalhes, estrago tudo!

Livro emprestado por: Laura. Obrigado!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sinto todo ódio

Sinto o sangue queimar em minhas veias como  napalm
Sinto-me como um réptil em vias de trocar de pele, sinto-maior do que eu mesmo.
Parece que penso com clareza, mas, sei que estou menos receptivo a idéias exteriores
Neste momento eu estou certo, mesmo que depois descubra que não.
Quero ver alguma coisa acontecer, elas não podem ficar assim

Eu sinto o ódio,
eu sou o ódio,
estou em chamas
não quero queimar sozinho
quero te embeber em alcool
te ver arder
assim como eu.


domingo, 30 de janeiro de 2011

Sobre música e corações - Open Letter to Duke - Parte 4/6

Nos primeiros ensaios a presença da Clarisse em nossa casa foi uma dádiva. Todos sentimos isso, ela chegava e abria as janelas, dizia que se o Welly não parasse de fumar todos nós morreríamos de câncer no esôfago. O Welly levava numa boa, dava umas risadas e acendia outro cigarro, só de sacanagem. Ele é o cara mais sacana da banda, não um cara sacana que faz maldades, mas é sacana por estar sempre tentando irritar alguém. Se você diz que aquele pedaço de melão na geladeira é seu, mesmo que ele não goste de melão ele espera um tempo, vai lá e come, mas isso não é o pior, o pior é que quando você perguntar quem comeu seu melão ele vai responder “ah, era seu? Foi mal”. Pra todo mundo que não for o dono do melão, a cena sempre é muito engraçada, ele faz essas coisas porque sabe disso. Bom, voltando ao assunto, a Clarisse mudou algumas coisas em casa e gostamos disso, acho que no fim das contas sangue novo sempre é bom pra dar uma reanimada no ambiente.

A Clarisse começou a ensaiar conosco na mesma época em que comecei a sair com a Elisa, uma mulher que freqüentava os mesmos eventos que eu, ou seja, já saiamos juntos muito antes de nos conhecermos, engraçado pensar assim, a primeira mudança em nossas vidas, foi que, começamos a chegar no mesmo horário e sentar um ao lado do outro. Foi só quando comecei a sair sério com a Elisa que alguém voltou a utilizar o quarto do Marcus, como a casa tinha quatro quartos, eu costumava dividir com o Hélio, mas agora eu queria ter um pouco mais de privacidade. As duas, a Clarisse e a Elisa, se deram muito bem, o mais importante pra saúde da casa sempre foi isso, todos que moram nela e a freqüentam assiduamente amam a música em muitas de suas formas.

Até a apresentação no Newport Brasil, a casa estava uma maravilha, todo mundo descontraído. O clima tinha voltado a ser o mesmo de antes do Marcus se tornar um alcoólatra, entre nós, pairava sempre um clima de brincadeira e até um descaso com o futuro. A apresentação no Newport foi bem diferente do que eu imaginava, eu nunca havia visto, e ainda não vi de novo, uma casa, onde fosse tocar jazz, tão cheia. Muitos rostos diferentes do que aqueles que estávamos acostumados, ficamos sabendo que a divulgação do evento, feita pela casa, havia sido pesada e que um apresentador de programa de uma emissora de televisão, fanático por jazz, havia vindo nos assistir. A presença anunciada dele é que havia feito a casa encher. Por um lado isso é bom, faz muito bem pro ego tocar em uma casa cheia, por outro lado, tocar para um monte de gente que não está nem aí para o jazz faz você se sentir um pouco como um bobo da corte.

Quando terminamos de preparar nosso equipamento, antes de começar a tocar, olhamos uns para os outros, e foi como se tivéssemos realizado um pacto ou estipulado um objetivo: não seriamos os bobos da corte, fazendo música de fundo enquanto todos paparicavam um apresentador de televisão. Fizemos disso nosso objetivo e posso dizer com toda certeza que o cumprimos, nunca havíamos tocado de forma tão complexa, nem nos ensaios mais ousados, aquele álbum. Não que a harmonia me permitisse fazer grandes coisas, queria ter me exibido bem mais, mas na medida do possível eu fiz minha parte. Quanto a Clarisse, foi a que menos pode aproveitar, seu grande mérito foi ter mostrado uma incrível resistência sem sair do tempo nenhuma vez. Já o Welly, eu juro que em alguns momentos eu achei que ele iria explodir, nunca tinha visto o cara tocar com tanto vigor, tocamos o primeiro tema em quase quinze minutos. O Hélio e o Wilsão também foram impecáveis e isso nos abriu algumas portas, hoje posso dizer isso com toda certeza.

O sucesso na apresentação do Newport fez com que criássemos, o Hélio querendo ou não, um vínculo com a Clarisse, que, mesmo sem a certeza de continuar fazendo parte da banda, continuou comparecendo freqüentemente em nossa casa. Já não podíamos mais excluí-la, e todos sabiam disso, inclusive ela. Foi nesse ponto que a casa mais parecia nitroglicerina, explodia ao maior descuido. Ninguém jamais podia tratar a banda como “quinteto” perto do Hélio, tampouco como “quarteto” perto da Clarisse, o primeiro explodia com a menor alusão à garota como integrante da banda, enquanto a garota esbravejava se qualquer um desse a entender que ela ainda não fazia parte da banda, foram tempos difíceis. A Elisa, que estava de fora, achava tudo muito engraçado, coisa que me deixava chateado.

Certo dia estávamos os cinco na sala pensando em possibilidades para um novo repertório, quando a Clarisse fez sua primeira sugestão, não tenho como me esquecer desse dia, muita coisa mudou depois dele:

- E se tocássemos Mingus?

Pra quem não entende, Charles Mingus foi um renomado jazzista, o seu diferencial em relação aos outros é que geralmente o líder da banda é o trompetista, e Mingus era líder e tocava contra-baixo, para mim, não há problema nenhum nisso, acontece que não podemos esquecer que para o Hélio, quem toca jazz é homem e negro, e nesse momento havia uma mulher e branca ameaçando tomar a liderança da banda que ele havia formado.

- E quem você acha que é para sugerir que toquemos alguma música? Não me lembro de você fazer parte dessa banda, não é só porque você quebra um galho pra gente que já pode se achar no direito de decidir qualquer coisa aqui.

Achei que a Clarisse fosse discutir, ela sempre discutia conosco, mas dessa vez não, ela apenas se levantou, pegou suas coisas e saiu. Ficamos todos pasmos, Wilsão foi o primeiro que saiu da sala, foi para seu quarto, sem dizer nada e não saiu mais de lá, o Welly apenas abaixou a cabeça e pousou as mãos entrelaçadas na nuca, ele sempre fazia isso quando não sabia o que fazer. E pela segunda vez, nessa história, eu senti que precisava fazer alguma coisa, foi então que antes de sair de casa eu disse:

- Sinceramente, meu amigo, esperava mais de você...

Fui pra casa da Elisa que morava em um apartamento não muito longe de casa, fiquei uns dias por lá, não queria ver a cara do Hélio. Não foram muitos dias, foram quatro para ser mais preciso, eu queria ficar mais tempo fora mas não agüentei. Ficar fora de casa, para mim, não é simplesmente ficar longe do Hélio, ou do Wilsão, ou do Welly, ficar fora de casa é ao mesmo tempo ficar longe da família e longe do emprego. Tudo o que eu faço da vida está ali, as pessoas com quem me relaciono, meus companheiros de trabalho e minha bateria. Ficar longe de casa é ficar sozinho. Durante a noite foi muito bom estar sempre por perto da Elisa, ela é uma excelente mulher, gosta de conversar sobre qualquer coisa, sempre tem bons conselhos e é uma namorada muito carinhosa. Agora, durante o dia, enquanto ela estava trabalhando, era o inferno, não nasci para apreciar a televisão ou essas artes visuais, meu negócio é tocar, e quando não estou tocando, tenho que estar conversando com alguém, ficar sozinho e sem minha bateria é a mesma coisa que estar em outra galáxia, fico totalmente perdido.

E foi por esse motivo que depois de infinitos quatro dias eu resolvi voltar para o quartel general dos Melancólicos Azuis.

Frankenstein - Mary Shelley


Algumas das obras consideradas como "clássicos" da literatura, me surpreendem por ter conseguido ganhar este status, um exemplo do que eu digo é a obra "Elogio da Loucura" de Erasmo de Rotterdam. Não que o cara não seja muito inteligente e a idéia base do livro não seja muito boa, ambas as coisas são assim, acontece que a execução deixa a desejar, o livro é muito chato.
Mas não é pra falar do Fankenstein que estamos aqui? Então vamos lá. Este é um clássico bem merecido, esse livro deveria, assim como muitos outros, ser incentivado nas escolas, a escritora ilustra muito bem, e de maneira sinistra, questões pertinentes ao homem enquanto ser social e também enquanto ser introspectivo. Existem filmes sobre o livro e alguns são muito bons, eu já os havia assistido antes de ler a obra, no entanto, esses filmes encenam os fatos, a trama psicológica se perde...
Critiquei anteriormente algumas editoras, sinopses e erros gramaticais (não que eu não cometa erros gramaticais, mas, acontece que eu não sou uma EDITORA), a edição da Martin Claret me surpreendeu, a sinopse não revela nada demais, apenas instiga, e eu só achei um mísero errinho durante todo o livro, esqueci de anotar a página, mas é um "É" que esqueceram de colocar o acento, ficando "E". Ou seja, justamente a Martin Claret que muita gente critica, eu vou elogiar! Livro muito bem publicado!

Livro emprestado por: Pipo. Obrigado!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Através do Espelho - Jostein Gaarder


Para quem não tem o hábito da leitura este livro é um bom começo. A história se desenvolve lentamente enquanto os personagens te levam a pensar na relação entre o físico e o metafísico. Basicamente se trata de um diálogo entre dois personagens, uma menininha doente e um a visita inesperada, em alguns momentos a visita se retira e a familia entra em cena.
Se você quiser que o livro tenha alguma magia e surpresa, NÃO leia a sinopse na contra-capa da edição da Cia. das Letras, acho que andam pondo algumas pessoas realmente estúpidas para escrever estas sinopses, pois, ela CONTA O LIVRO TODO, INCLUSIVE O FIM!!!! (talvez a contra-capa seja apenas um micro-livro pra quem em preguiça de ler? hahaha)

Livro emprestado por: Jazz. Obrigado!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sobre música e corações - So What - Parte 3/6

O Hélio sempre teve uma vida difícil, mas nunca foi pobre, isso devido ao fato de sua família ser muito dedicada. Desde os quatorze anos ele ajuda o pai, que trabalha como pedreiro (eu também comecei como servente de pedreiro do seu João, pai do Hélio, mas só aos dezessete), aos dezoito ele cansou, comprou uma moto e arranjou emprego como entregador. A família dele nunca acreditou que ele conseguiria ir tão longe com a música, tampouco acreditavam que ele iria longe com os estudos, isso foi bom, o Hélio é orgulhoso pra caramba, e só porque ninguém punha fé nele, mandava muito bem tanto nos estudos quanto na música, sempre me espelhei muito nele, ao ponto de muita gente achar que somos irmãos. Apesar de ser bem mais baixo que eu ele parece comigo, tem um metro e oitenta, faz alguns anos que anda sempre com o mesmo cavanhaque, pontudo no queixo, costuma estar sempre de óculos escuros, tem uma puta pinta de artista, sério mesmo. Foi ele quem idealizou a banda e se esforçou para convencer cada um de nós, muito orgulhoso e teimoso, geralmente as coisas acontecem como ele quer que aconteçam, mas isso não é regra. Outra característica que não pode passar em branco é essa fissura que ele tem por seu, ou nosso, africanismo, se ofende sempre, achando que estão sendo preconceituosos pelo fato de ser negro (não gosto muito disso, mas depois de quinze anos de convivência acabo abstraindo). Enfim, era desse cara que eu estava com medo.

Depois de alguns dias eu tive a oportunidade perfeita pra começar a amaciar o Hélio. Recebemos uma proposta para tocar em um bar chamado Newport Brasil, bem reconhecido aqui na região, acontece que a ocasião era o aniversário de 50 anos de um álbum chamado A Kind of Blue do Miles Davis. Não que fosse impossível para nós, o grande problema é que este álbum é inexeqüível sem um contra-baixo. Nunca tocamos uma música como se fossemos playbacks vivos, sempre deixamos nossa alma fruir, mas nesse álbum o contra-baixo é quem faz toda a harmonia, liberando os demais para solar à vontade. Esperei ele começar a se descabelar e a alisar freneticamente o cavanhaque pontudo, foi aí que comecei a falar sobre o dia em que toquei com a orquestra no teatro. Silêncio. Foi tudo que ouvi depois que parei de falar. Depois de um minuto com a duração de uma hora o Wilsão foi quem arriscou falar alguma coisa. O cara é muito gente fina. Se não fosse ele ter quebrado o gelo talvez tudo fosse muito diferente, antes que o Hélio negasse, e me falasse todas aquelas coisas de que para o jazz ser verdadeiro ele deveria ser executado por homens negros, o Wilsão propôs que procurássemos em todos os lugares, na cidade e na região, que colássemos lambe-lambe nos postes e publicássemos anúncios na internet e nos jornais, se até uma semana antes da apresentação não aparecesse ninguém que tocasse satisfatoriamente, não teríamos outra escolha. O Hélio olhou pra cada um de nós como se o estivéssemos apunhalando antes de fazer um aceno seco com a cabeça, inclina levemente para baixo, volta para lugar.

Eu sei que isso é muito clichê, mas eu tenho de dizer que os dias se passaram muito lentamente, porque foi exatamente isso que aconteceu. Apesar de toda a correria, dos dias inteiros procurando formas de anunciar que precisávamos de um contra-baixista e das noites inteiras tocando em diversos bares pela cidade, o tempo pingava lentamente. Eram três semanas para encontrar um novo integrante ou quatro semanas para a apresentação. Eu achei que o Wilsão tinha sido muito justo e não tentei sabotar a divulgação, se achássemos um contra-baixo esta tudo resolvido de qualquer forma, apesar de ser um grande desperdício não chamarmos logo a Clarisse.

É incontável o número de pessoas que tocavam baixo elétrico que nos procurava, e quando dizíamos que precisávamos de alguém que tocasse um acústico, um ou outro dizia que apesar de não possuir o instrumento talvez pudesse tocar, quando trazíamos do quarto o contra-baixo do Marcus, víamos o cara embasbacado, sem saber nem como segurar o trambolhão. Não posso negar que era até engraçado, muito marmanjo que chegava com a maior pinta de bonzão não conseguia nem tirar som do contra-baixo. 

Em todas as nossas apresentações anunciávamos estar em busca de um quinto integrante, e certo dia a Clarisse estava presente no bar. Na hora em que o Hélio fez o anuncio eu senti os olhos dela me fulminando, eu não soube o que fazer, mas senti que precisava mesmo que algo fosse feito aquela noite. Juro, alguma coisa em mim me mandava tomar alguma atitude, e pra quase tudo na vida eu não sou assim, as vezes sou até meio pau mandado, mas é porque um sem número de coisas que as pessoas consideram importantes e ficam se estapeando pra decidir, realmente não me fazem a menor diferença, agora, quando o negócio tem a ver com a minha arte acontece isso, me dá uma sensação de que alguma coisa tem que ser feita, e rápido. Aproveitei o primeiro break, enquanto todo mundo ia ao banheiro ou tomava uma água, fui até a mesa da Clarisse, não falei nem boa noite e já lancei direto:

- Qual a probabilidade de você ter trazido seu contra-baixo?

Ela riu e respondeu:

- Só alguém muito estranho fica transportando um treco daquele tamanho de um lado para o outro da cidade - E antes que eu conseguisse exprimir meu desapontamento, ela deu mais uma risada e continuou falando - Sabe que eu realmente sou uma pessoa muito estranha e estou com meu contra-baixo no carro? Depois do ensaio da orquestra eu fui pra casa tomar um banho e vim direto pra cá, acabei o deixando no banco de trás, se você me der uma mão, trago pra cá em um instante.

Quando eu entrei no bar segurando um contra-baixo toda a banda sorriu, quando atrás de mim entrou uma miniatura da branca de neve um dos rostos ficou sério. Sabia que isso aconteceria, mas eu já havia começado e iria terminar. Apresentei a Clarisse para os três e apresentei os três para Clarisse, preparei os instrumentos, virei pro Hélio e falei:

- Vamos tocar Armstrong?
- Agora? Não.
- Vamos tocar o que?

Achei que o Hélio ia aprontar alguma, mas ele me surpreendeu, realmente, tomou uma decisão muito mais sensata do que a que eu havia tomado quando propus que tocássemos Armstrong:

- Miles, não é pra tocar Miles que precisamos de um contra-baixo?

Perguntei pra Clarisse o que ela achava disso, ela até se ofendeu, na euforia, eu fiz a pergunta de uma forma que ficou parecendo que eu menosprezava o conhecimento teórico dela, nos preparamos, demos um tempo para que ela aquecesse os dedos, então Hélio foi ao microfone e anunciou:

- So What.

Escutei dedos estralando a minha direita, era o Wilsão se preparando. A versão de estúdio dessa música possui uns dez minutos, mas na versão de estúdio são dois saxofonistas, um alto e um tenor, o Welly é tenor, mesmo ele prolongando bastante seus solos e fazendo algumas linhas de ambos a música fica mais curta, isso não faz, pelo menos pra mim, com que ela fique pior. Quando o Wilsão finalmente martelou as primeiras teclas do piano fiquei bem tenso enquanto esperava sua deixa, onde eu iniciaria o acompanhamento e o baixo faria sua apresentação, ela realmente conhecia a música e teve vigor para tocá-la inteirinha sem sair do compasso. O Welly mandou muito bem, o público ficou muito satisfeito. 

Terminamos a apresentação daquela noite novamente como um quinteto. A sensação era muito boa. A Clarisse não era o Marcus, não tocava como ele, mas no jazz isso não significa necessariamente tocar melhor ou pior, o som que tiramos de nossos instrumentos tem muito de nossa alma, não se pode imitar um outro instrumentista, nunca fica igual. A Clarisse era diferente e isso me agradou, não queríamos ninguém imitando o Marcus em nossa banda, ele havia sido único e permaneceria em seu lugar. 

Nunca costumávamos sair logo que o bar fechava, sempre ficávamos mais um pouco enquanto o pessoal limpava tudo, nesse tempo comentávamos nosso som, repetíamos algumas passagens, tocávamos outras de maneira diferente, já pensando em uma próxima apresentação. Nesse dia, aproveitamos a presença da Clarisse para tentar definir qual era seu domínio do instrumento, sua influência erudita era bem marcante e a tornava singular.

Quando chegamos em casa, eu realmente estava satisfeito, achei que, mesmo que só até a apresentação do A Kind of Blues, eu havia garantido a presença da Clarisse na banda e daí pra frente seria só fazer a cabeça do Hélio para que ela fosse efetivada. Doce ilusão, eu ainda não conhecia direito a personalidade da Clarisse, mas logo descobriríamos que por trás daquela aparência frágil, havia um gênio tão forte quanto o de Hélio. E isso não seria nada bom para o resto da banda.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Carrie, a estranha - Stephen King


Como sempre, não contarei trechos do livro, também não falarei sobre o drama que King passou com esse livro, as duas coisas você pode encontrar lendo ele.
O que posso dizer sobre o livro é que é uma ficção que envolve telecinesia, ou seja, o poder de mexer as coisas com a força da mente, é uma história forte, típica de King, e se desenvolve de duas maneiras diferentes, narração dos fatos e trechos como se fossem os relatos posteriores à história.
Um livro de rápida leitura.

Gostei.

PS - Se você for ler a edição da "Ponto de Leitura", desconsidere o "escrevinhou" no penúlitmo parágrafo da página 195. Hehehe (afinal de contas essa parte é da narração e não da reprodução de cartas)

Livro emprestado por: Pipo. Obrigado!

domingo, 23 de janeiro de 2011

Sob a Luz das Estrelas - A. J. Cronin

Uma novela com diversos personagens e tramas separadas que se entrelaçam pela participação dos personagens centrais. O cenário principal, o centro de gravidade do livro é a situação do operariado das minas de carvão da Inglaterra, no fim do século XIX e no começo do século XX. O livro aborda de maneira suave questões como a política e a econômia da Inglaterra no período bem como a visão dos operários sobre a participação na primeira guerra mundial, "a guerra para acabar com todas as guerras". O autor, Cronin, contemporâneo ao período que trabalha, era médico e atuou em diversas frentes, tanto nas mansões nobres quanto nas burguesas, tanto nos terraços de aluguel onde viviam os mineiros quanto na guerra. Por isso, enquanto em 1930 isso era apenas uma novela que mostrava uma dura realidade, para nós é uma fonte que deve ser levada em conta no estudo da História.

Recomendo com louvor, um livro cinco estrelas, imprevisível, nem no penúltimo capitulo você consegue ter idéia de como o livro vai acabar!

Livro Emprestado por: Mamãe. Obrigado!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sobre música e corações - Basin Street Blues - Parte 2/6

Hoje é um dia especial, não que seja um dia especial meu, é que me sinto parte disso tudo, aliás, me sinto responsável por tudo que tem acontecido. Meu nome é Thomás e toco bateria em um pequeno grupo de Jazz. Geralmente os bateristas só tocam, é muito difícil vermos por aí um baterista querendo mandar em uma banda... Tem o Phil Collins né, mas depois que ele começou a mandar ele foi pra frente do palco... Mas enfim, eu não sou esse tipo de baterista, gosto de ficar lá no fundo mesmo, na minha, gosto de tocar e ponto. A diferença é que sei reconhecer um talento quando escuto um tocar e é aí que começou tudo... Tudo começou quando comecei uma briga com o arranjador e trompetista, Hélio, sobre alguém que tocava contra baixo...

O Hélio é assim, pra tocar Jazz tem que ser negro e homem. Se for algum tema cantado até vai lá uma mulher, negra ou branca, mas se é pra tocar, a regra é essa, negro e homem. Tem seu lado positivo, a banda adquiriu um certo renome, não é todo dia que aparecem cinco negrões em um barzinho aqui na capital e saem tocando um bop. Se acontecesse, a chance de sermos nós era cem por cento, sério mesmo. O nome ajudou bastante, Melancólicos Azuis, sugestão do sax, Welly, o nome original dado pelo Hélio era Melancholic Blues, mas aí o Welly fez uma brincadeira com o nome em português e o fato de sermos todos negrões, a brincadeira foi longe mesmo cara, e agora meio mundo de gente, mesmo que nunca tenha ouvido nosso som sabe que existe uma banda chamada Melancólicos Azuis cujos integrantes são (eram) cinco negrões. Esse “eram” em parênteses é a introdução da história que tenho pra contar.

Os Melancólicos eram cinco, como eu já disse: o Hélio, arranjador e trompetista; o Welly no sax; o Marcus no contra-baixo; o Wilsão no piano; e eu, Thomás, na bateria. Conheço todo mundo há muito tempo, desde a adolescência, quando resolvemos que iríamos fazer diferente, enquanto a galera se divertia cantando um rap, nós queríamos tocar Jazz, pro Welly e pro Wilsão até que foi fácil, a igreja deles, Congregação, deu maior apoio e eles receberam apoio dos irmãos e da família, já pra mim, pro Hélio e o pro Marcus foi bem mais difícil, ralamos mesmo. Ergui umas quatro casas pra bancar o instrumento e as aulas e quando começamos a tocar pra valer, o Hélio teve que se demitir, era entregador de pizza no mesmo horário em que deveríamos tocar. 

Já estávamos vivendo das apresentações há alguns anos, havíamos alugado uma casa e podíamos fazer o quiséssemos lá, convidávamos amigos e fazíamos uns sons meio doidos, Jazz e Hip Hop, Jazz e Rock, Jazz e MPB, enfim, a casa era nossa e todo mundo era bem vindo, quando anoitecia fazíamos o que sabíamos de melhor. Até que um dia o Marcus vacilou, essa vida boemia tem seus pontos negativos, o Marcus bebia bastante e brigávamos muito por isso, ele chegava ao ponto de perder o ritmo em algumas apresentações. Após uma dessas brigas ele pegou a moto e saiu à milhão, no dia seguinte todo mundo achou que ele tinha desencanado da banda, sua mãe o achou no IML. Foi barra. Não gosto muito de falar sobre isso.

Continuamos nos apresentando como quatro negrões, bem mais melancólicos que antes e sem um contra-baixo. E agora você deve estar pensando “caramba, eu achei que essa era pra ser uma história feliz!” e eu digo “calma, calma, quem nunca conheceu o fundo do poço não sabe como é bom estar por cima”. Nossa cidade é cheia de eventos culturais, sabe, e isso é muito bom, as pessoas deviam aproveitar mais, tem muito evento gratuito e eles nunca estão cheios. Eu gosto muito de assistir a alguns concertos, gosto de escutar música erudita também, é bom não ficarmos bitolados em um único tipo de som.

Certa tarde eu fiquei sabendo que haveria uma apresentação de jazz com membros de uma das orquestras locais, fiquei muito interessado, tocariam temas do Louis Armstrong, para quem não conhece Armstrong, ele está para o jazz como o John Lennon está para o rock. A orquestra estava composta por cinco pessoas, um trompete, um trombone, um clarinete, um piano, e um contra-baixo, eles não tinham um baterista, e como eu havia chego com antecedência fui conversar para ver se eu poderia compor com eles. Não tiveram uma boa impressão de mim, veja você, cinco pessoas da orquestra querendo fazer uma apresentação, chega um cara de dois metros de altura, cabelo black power, jeitão de jogador de basquete e diz que pode tocar bateria, qualquer um ficaria desconfiado. Expliquei que eu tocava em um conjunto de jazz, os Melancólicos Azuis, e aí a contra-baixista disse que já havia nos visto algumas vezes e convenceu os demais, o pessoal do teatro tinha sua própria bateria a qual me emprestaram. A música que eles tocariam primeiro era a Basin Street Blues e tive três boas surpresas nela, a primeira foi ver da boca do trompetista, um cara magrelo, loiro, cheio de espinhas, sair uma voz que, apesar de não chegar a ser a do Louis Armstrong, ficava bem próxima da do Sebastian (lembra? Aquele que fazia as propagandas da C&A? hahaha). A segunda foi todo mundo ter acenado com a cabeça e parado para que eu solasse, lógico que aproveitei a oportunidade pra me mostrar um pouco, e a terceira e mais surpreendente de todas foi ver a contra-baixista, uma mulher que lembrava uma miniatura da branca de neve da Disney, menor que o contra-baixo, avançar três passos com aquele instrumento enorme e solar como eu nunca tinha visto. O resto da apresentação seguiu este patamar. Não gosto de me gabar, no entanto, fomos muito bons mesmo.

Após a apresentação fomos os seis tomar umas cervejas e jogar conversa fora, falei que já havia assistido algumas apresentações da orquestra e que nunca havia imaginado que eles pudessem tocar da maneira como havíamos tocado hoje, não que um seja mais difícil de tocar que o outro, jamais duvidaria das capacidades técnicas de membros de uma orquestra, mas o jazz não é apenas ter técnica e seguir uma partitura, o jazz envolve saber transgredir aquela partitura e por vezes abandonar a técnica. Eles me explicaram que possuem este projeto paralelo à orquestra já há muito tempo, mas que só neste dia sentiram-se preparados para tocar. Trocamos telefones, passei meu endereço e cada um seguiu seu caminho.

Depois desse dia é que eu fiquei com a idéia fixa de que a Clarisse, a miniatura da branca de neve, deveria tocar conosco. Sente o drama? Fiquei uns dias com a idéia na cabeça sem nem ter coragem de tocar no assunto com os outros caras, tudo por medo da reação do Hélio. Depois da morte do Marcus o Hélio andava mais estourado do que o normal, tinha parado de beber também, o negócio todo mexeu muito com ele. Nos primeiros dias ele até voltou pra casa da mãe dele, o cara ficou abalado mesmo. É nessas horas que eu fico com uma ponta de inveja do Welly e do Wilsão, acreditar em um Deus, em um paraíso e em todas essas coisas faz muito bem pra eles, conseguiram superar a perda do Marcus bem mais rápido que nós, é claro que isso não significa que não sintam saudades, teve um dia que eu cheguei em casa e o Wilsão tava parado na porta do quarto do Marcus olhando lá pra dentro, a cena foi bem triste, não é todo dia que a gente vê um negrão de um metro e noventa, com uns cento e trinta quilos, barbudo, chorando como uma criança. Enfim... A questão é que ainda estávamos muito abalados e eu não tive coragem de falar com o Hélio, mas não tinha uma noite que antes de dormir eu deixava de lembrar a execução de Basin Street Blues.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Sobre música e corações - Resumo - Parte 1/6

RESUMO

Todo mundo tem uma história de amor pra contar, a de algumas pessoas está atrelada há algum fato específico, uma troca de olhares, um encontrão em uma estação de metro, um telefonema para o número errado. O amor é assim, quando ele aparece, ele simplesmente aparece, não precisa receber convite nem bater na porta, basta que haja uma janela aberta. Thomas também conhece uma história de amor, que ele teve o prazer de acompanhar de perto. O história se desenvolve em meio a trajetória de um quinteto de jazz chamado Melancólicos Azuis, seus fracassos e seus sucessos são acompanhados de uma sutil história de amor que vai se tornando cada vez mais presente, até culminar em... Bom... Em que essa história culmina, só lendo pra saber.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Phillip Price

In someplace where the Sun doesn´t shine
Lives a boy who likes to drink blood-wine
The name of this boy is Phillip Price
And he only laughs making experiences in his mice

When the children are learning to cook
Phillip Price cast dark-spells with his old book
That boy only has seventeen
But his bag is full of sin

Everyone feels the scare of the death
But Phillip Price is waiting his time on a cold bath
(Dedicado a Felipe Nunes, Franca, 2009)

Devem haver erros no meu pífio ingles... Mas um poema em homenagem ao meu gringo cunhado tinha que ser em inglês... Qualquer absurdo, finge que foi de propósito.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Meninos do Brasil - Ira Levin


Uma história de tirar o fôlego! A narrativa consegue manter o climax do primeiro ao último capítulo. Uma ficção que envolve Europa, América do Norte e do Sul, conspirações Nazistas e Judaícas e as tendências do desenvolvimento biomédico da década de setenta. Não foge da realidade, é uma trama muito legal e plausível!

Livro emprestado por: Mamãe. Obrigado.

Violino - Anne Rice


Para quem gosta de literatura sombria este livro é ótimo! A narrativa é feita pela protagonista Trianna que mistura acontecimentos, lembranças, narrativas e música e desvairos, chegando mesmo a levar o leitor a pensamentos desvairados.

PS - Não deixe-se influênciar pela sinopse do livro, pois, (primeiro) ela dá uma impressão errada sobre o que a escritora conhece do Brasil, (segundo) estraga o suspense do livro pois conta partes importantes da trama, (terceiro) é MUITO mal escrita!!!

Livro emprestado por: Pipo. Obrigado!